terça-feira

“O sonho coincidiu com a realidade, e as mesmas bocas uniram-se na imaginação e fora dela.”
[Machado de Assis, Várias Histórias, p. 55]
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Nunca vi pessoa mais sonhadora

Entre sonho e devaneios

Parada ali

Meio cega e meio surda

É indiferente aos sons confusos e prolongados

das vozes em volta

Entrega o espírito e vai

Sem mais

Foge da realidade

E entra para o que é de fato verdadeiro,

No seu mundo

Agora está

Ali do alto num lugar relativamente afastado

Onde se pode ver nitidamente o que se quer

em cores vibrantes

e tons pastéis.

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quinta-feira

Janeiro decorre e aquela velha pulguinha não mora mais atrás da orelha.

Mudou-se, como nômade em busca de alimento.

Agora transcorre pelo corpo todo.

Cócegas,coceiras, impaciência, Sensações,

Questões.

- O que é que eu faço com isto?

- O que Será?

- Isso ou aquilo?

Penso, penso e penso mais.

Ah! Sou de virgem.

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You are my sunshine
My only sunshine.
You make me happy
When skies are gray.
You'll never know, dear,
How much I love you.
Please don't take my sunshine away
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segunda-feira

Receita para lavar palavra suja

Mergulhar a palavra suja em água sanitária.

Depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.

Algumas palavras quando alvejadas ao sol

adquirem consistência de certeza. Por exemplo a palavra vida.

Existem outras, e a palavra amor é uma delas,

que são muito encardidas pelo uso, o que recomenda esfregar

e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente.

São poucas as que resistem a esses cuidados, mas existem aquelas.

Dizem que limão e sal tira sujeira difícil, mas nada.

Toda tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão.

Agora nunca vi palavra tão suja como perda.

Perda e morte na medida em que são alvejadas

soltam um líquido corrosivo, que atende pelo nome de amargura,

que é capaz de esvaziar o vigor da língua.

O aconselhado nesse caso é mantê-las sempre de molho

em um amaciante de boa qualidade. Agora, se o que você quer

é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente

sabão em pó e máquina de lavar.

O perigo neste caso é misturar palavras que mancham

no contato umas com as outras. Culpa, por exemplo,

a culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha.

Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo, já que desejo,

sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode,

o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.

Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.

Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras

sob o risco de perderem o sentido.

A sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva,

produz uma oleosidade que dá vigor aos sons.

Muito importante na arte de lavar palavras

é saber reconhecer uma palavra limpa.

Conviva com a palavra durante alguns dias.

Deixe que se misture em seus gestos, que passeie

pela expressão dos seus sentidos. À noite, permita que se deite,

não a seu lado mas sobre seu corpo.

Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne,

prolifera em toda sua possibilidade.

Se puder suportar essa convivência até não mais

perceber a presença dela,

então você tem uma palavra limpa.

Uma palavra limpa é uma palavra possível.

[Viviane Mosé]

quarta-feira


Musica toda linda para começar as postagens desse ano.
"Porque baby...
Não há montanha alta o suficiente,
Não há vale profundo o suficiente,
Não há rio largo o suficiente
Que me impeça de te alcançar"